Especialidades

Anafilaxia

A anafilaxia é uma reação multissistêmica, ou seja, envolve mais de um órgão/sistema do nosso corpo, grave, de início súbito e potencialmente fatal.

Suas manifestações clínicas envolvem dois, ou mais, dos seguintes sinais e sintomas:

  • Urticária e angioedema: urticária é uma lesão de pele vermelha, elevada, que coça muito. Quanto mais extensa e mais rápido for seu aparecimento, mais grave é o quadro. O angioedema é um inchaço localizado nas partes mais moles do corpo, como lábios, pálpebras, orelhas e genitais, mas às vezes pode ocorrer de forma intensa, em quase todo o corpo. O mais grave é quando esse edema (inchaço) acomete a glote que é a parte interna da garganta. Isso pode ocasionar sufocação. Não é toda urticária e angioedema que são causados por anafilaxia, mas quando ocorrem de forma aguda e com evolução rápida (começa aos poucos e logo ganha grande extensão do corpo), geralmente, é sinal de anafilaxia.
  • Sintomas respiratórios: espirros, coceira em olhos e nariz, obstrução nasal, hiperemia (vermelhidão) ocular e lacrimejamento, tosse seca, falta de ar, chiado no peito, sensação de garganta apertada, alteração de voz, sensação de aperto no peito.
  • Sintomas gastrointestinais: náusea, vômito, cólicas, diarreia.
  • Sintomas cardiocirculatórios: queda de pressão arterial, taquicardia (batedeira no coração), palidez.
  • Sintomas neurológicos: lipotimia (desfalecimento), perda da consciência, sensação de que está distante, desmaio, liberação de esfíncteres (perda de fezes e urina).

Quanto mais sintomas, principalmente cardíacos e neurológicos, mais grave é a anafilaxia. O “choque” é uma condição clínica onde há falência da circulação, ou seja, o sangue não consegue chegar até os órgãos periféricos por causa da queda da pressão arterial e alterações da microcirculação. É uma situação gravíssima, com alta mortalidade.

Existem várias causas de choque e a anafilaxia é uma delas. Portanto, o choque anafilático é uma forma de anafilaxia.

É muito importante se reconhecer prontamente os primeiros sintomas da anafilaxia, pois o tratamento rápido é fundamental para que a doença não evolua até o choque. Outra causa de morte pela anafilaxia é a sufocação, quer pelo edema de glote, quer pelo broncoespasmo (fechamento dos brônquios). Há ainda a possibilidade de a pessoa enfartar já que durante uma crise anafilática ocorre um espasmo das coronárias (diminuição do calibre interno das artérias que irrigam o coração) e se a pessoa já tiver uma alteração prévia, como placas de ateroma (aterosclerose) a anafilaxia poderá ser “a gota d´água” para o infarto agudo de miocárdio.

Fatores de risco

Simons et al (WAO Journal – 2014), no Consenso Internacional sobre Anafilaxia (ICON), aponta como fatores de risco: extremos de idade (infância / adolescência e idosos), gravidez, algumas comorbidades (asma, doenças cardiovasculares, mastocitose) e fatores farmacológicos (uso de inibidores da ECA e de beta bloqueadores).

Há ainda cofatores que podem amplificar a reação anafilática (em até 20-30% dos casos): exercícios intensos, estresse emocional, estados infeciosos agudos, uso concomitante de anti-inflamatórios não hormonais e álcool, por exemplo.

Principais Causas de anafilaxia

No Brasil, inquérito direcionado a alergologistas apontou como principais agentes causais de anafilaxia os medicamentos (AINH, antibióticos), seguido dos alimentos (leite de vaca e clara de ovo entre lactentes e pré-escolares, crustáceos entre crianças maiores, adolescentes e adultos) e picadas de insetos (formiga, abelhas e vespas). Em cerca de 10% dos casos não houve identificação do agente etiológico (anafilaxia idiopática).

  • Alimentos: apesar de qualquer alimento poder desencadear um quadro de anafilaxia, os principais alimentos envolvidos são: leite e ovo nas crianças e peixe, castanhas e crustáceos nos adultos. Esses alimentos podem estar presentes em receitas sem uma identificação explícita ou mesmo contaminando outro alimento durante sua preparação.
  • Medicamentos: dentre os medicamentos, os anti-inflamatórios e os antibióticos são os principais causadores de anafilaxia. Os principais anti-inflamatórios causadores de anafilaxia são: dipirona, ácido acetil salicílico (AAS) e o diclofenaco. Apesar de qualquer antibiótico poder causar reação alérgica, o mais comum são os da classe das penicilinas, como amoxacilina e penicilina benzatina.
  • Insetos: os insetos (abelhas, formigas e vespas) são responsáveis por muitos casos de anafilaxia através da inoculação do seu veneno no organismo da vítima.
  • Látex: o látex (borracha natural), usado em vários produtos hospitalares e de uso doméstico, é responsável por um grande número de reações alérgicas. Há basicamente dois grandes grupos populacionais com grande risco de desenvolver alergia ao látex. São os profissionais da área de saúde, como médicos, dentistas e enfermeiros, e os pacientes com espinha bífida. Os dois grupos são de risco por estarem em contato frequente com o látex, principalmente das luvas, que geralmente são feitas desse material.

Diagnóstico

Baseado na frequência dos sintomas, Sampson et al (J Allergy Clin Immunology , 2006) desenvolveu os critérios diagnósticos atualmente universalmente utilizados para anafilaxia, sendo a presença de qualquer um dos três critérios abaixo:

  • Início agudo de doença (minutos ou horas) com envolvimento da pele, mucosas ou ambos (por exemplo, urticária generalizada, prurido ou eritema facial, edema lábios-língua-úvula). E pelo menos um dos seguintes itens:
  • Comprometimento respiratório (dispneia, sibilos-broncoespasmo, estridor, hipoxemia);
  • Pressão arterial reduzida ou sintomas associados de disfunção orgânica (hipotonia, síncope).
  • Dois ou mais dos seguintes sintomas ocorrendo rapidamente após exposição a um alérgeno provável para o paciente (minutos a horas).
  • Envolvimento de pele-mucosas (por exemplo, urticária generalizada, prurido-eritema facial, edema lábios-língua-úvula);
  • Comprometimento respiratório (dispneia, sibilos-broncoespasmo, estridor, hipoxemia);
  • Pressão arterial reduzida ou sintomas associados de disfunção orgânica (hipotonia, síncope);
  • Sintomas gastrintestinais persistentes (por exemplo, cólica abdominal persistente, vômitos).
  • Queda da pressão arterial após exposição a um alérgeno conhecido para o paciente (minutos a horas).

Tratamento

O paciente deve SEMPRE ser encaminhado a um serviço de Emergência Hospitalar, onde serão realizadas as medicações necessárias e monitorização do quadro clínico.

As medicações utilizadas no tratamento da anafilaxia podem incluir: adrenalina, soro fisiológico para manter a pressão arterial, corticoide, anti-histamínico, broncodilatador, drogas vasoativas e oxigenioterapia.

Mas, a adrenalina intramuscular é a droga de escolha, devendo ser sempre administrada diante de um quadro de anafilaxia, pois é a medicação que pode diminuir a mortalidade da doença.

Deve se atentar à possibilidade da recorrência dos sintomas de anafilaxia em até 12 horas após o início dos sintomas, a chamada reação bifásica, sendo mais comum nos pacientes com história anterior de reação bifásica, causa idiopática da anafilaxia e história pessoal de asma mal controlada, portanto alguns pacientes devem permanecer em observação hospitalar por mais tempo.

Na alta hospitalar, os familiares e o paciente devem receber a prescrição dos medicamentos necessários para continuidade imediata do tratamento domiciliar, em geral, corticoide e anti-histamínico oral e orientação para retornar ao hospital caso reapareçam os sintomas. TODOS os pacientes com reações anafiláticas devem ser encaminhados ao especialista em alergia, para investigação etiológica, avaliação de riscos, prevenção de novos episódios e tratamento de comorbidades.

 As principais medidas preventivas / educativas compreendem:

  • Pacientes e familiares devem ser orientados para o reconhecimento dos sinais precoces de novo episódio de anafilaxia;
  • Plano de ação para exacerbações de anafiliaxia traz as situações de alerta para se reconhecer uma anafilaxia e o que fazer nesse caso. Traz também uma ficha com os principais dados do alérgico, telefones de contato em caso de emergência (família/responsável e médico), número do plano de saúde (se houver) além de indicar o hospital de referência para transferência, ou se o SAMU deve ser acionado. Manter o plano de ação em local acessível ao paciente e familiares e junto com os dispositivos de adrenalina auto injetável, caso o paciente possua um;
  • Dispositivo de adrenalina auto injetável ou caneta de adrenalina é de auto aplicação, contendo uma dose única de adrenalina, devendo ser aplicada na região da coxa pelo próprio paciente ou cuidadores em caso de anafilaxia. Estes dispositivos são disponibilizados em doses fixas de 0,15 mg (crianças até 30 Kg) e 0,3 mg (para crianças maiores/adultos). As canetas de adrenalina estão indicadas especialmente para os pacientes com risco contínuo de morte e exposição frequente ao componente alergênico como por exemplo: para os pacientes alérgicos a formigas, abelhas ou vespas quando frequentam locais de maior exposição e de difícil acesso, como florestas ou regiões rurais, para crianças com alergia alimentares com manifestações graves e que tenham seu risco de exposição aumentado por o alimento alergênico ser muito presente no dia a dia ,como leite de vaca e ovo, e também pelo risco maior de exposição acidental nesta faixa etária. O médico deverá orientar o paciente e seus familiares como usar a caneta de adrenalina auto injetável e ela deverá estar sempre com o paciente seja em casa, no trabalho, na escola ou em uma viagem dentro do avião. Infelizmente sua venda não foi autorizada ainda no Brasil, mas existem importadoras que vendem essa medicação, mediante apresentação de receita médica.

Contatos de algumas importadoras que comercializam as canetas de adrenalina auto injetável no Brasil (em ordem alfabética):

Agendar consulta com a Dra. Pilar