Especialidades

Dermatite Atópica

Definição

A dermatite atópica é uma doença inflamatória crônica da pele, mediada por mecanismos imunológicos, de causa multifatorial, mas com um componente genético muito importante que leva a lesões da pele e coceira. Na maioria das vezes, os pacientes com dermatite atópica apresentam antecedente pessoal ou familiar de alergia, podendo estar associada principalmente à asma e rinite alérgica.

Atualmente, existem duas hipóteses que tentam explicar o desenvolvimento da dermatite atópica. Na primeira, chamada de fora para dentro (outside-inside), a dermatite atópica seria produzida primariamente por uma disfunção de barreira da pele. Na segunda, de dentro para fora (inside-outside), seria produzida primariamente por uma alteração imune que desencadearia uma resposta inflamatória contra irritantes e alérgenos ambientais. É provável que todos os pacientes apresentem uma combinação de desregulação imunológica e disfunção da barreira da pele e que ambas as hipóteses, de fora para dentro e de dentro para fora, sejam relevantes em diferentes subgrupos de pacientes.

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A apresentação clínica da dermatite atópica varia desde formas localizadas e leves até formas disseminadas e graves. As principais manifestações clínicas são coceira, pele seca e o eczema, que pode ter períodos de melhora e piora ou ser crônico, com distribuição e características variáveis conforme a idade.

O eczema é definido como uma inflamação da pele, podendo apresentar as seguintes características: eritema (hiperemia), pápulas (lesões elevadas), vesículas (pequenas bolhas), escamas, crostas e liquenificação (pele espessa e mais rígida). As características e localização do eczema variam de acordo com a idade do paciente, sendo dividido em fase infantil, pré-puberal e adulta.

  • Fase infantil ou do lactente: até os 2 anos de idade, as lesões se localizam mais na face, poupando o centro da face e predominando nas bochechas. Outros locais, como face extensora dos membros e tronco, também podem ser acometidos. Não é incomum a presença de dermatite seborreica, sobretudo nos primeiros meses de vida. O prurido é intenso podendo levar à irritabilidade e dificuldade de dormir. As lesões se apresentam, principalmente, em forma de eritema, pápulas e vesículas. Podendo ocorrer infeções secundárias, com exsudação (saída de líquido da pele) e crostas melicéricas (cor de mel);
  • Fase pré-puberal ou da criança: ocorre a partir dos 2 anos e pode persistir até a puberdade. As lesões localizam-se principalmente nas regiões flexurais (dobras) dos joelhos, cotovelos, pescoço, pulsos e tornozelos. As pápulas eritematosas e vesículas são substituídas gradualmente por liquenificação (espessamento, escurecimento e acentuação dos sulcos da pele). A coceira está sempre presente e pode ser de difícil controle. É importante salientar que 60% dos pacientes apresentam melhora importante ou desaparecimento total das lesões nesta fase da doença;
  • Fase adulta: é semelhante à fase pré-puberal, mas as lesões são mais liquenificadas, principalmente nas regiões flexurais e nas mãos. Nesta faixa etária, a face e as mãos são frequentemente acometidas, lesões localizadas nos mamilos podem ocorrer com frequência em mulheres e adolescentes jovens, além de lesões disseminadas não serem raras nesta fase. Os pacientes que na infância apresentaram formas graves da doença e alterações psicológicas importantes têm maior chance de persistência da doença na idade adulta. Este aspecto é importante, pois chama à atenção para a necessidade de maior controle do quadro emocional nas crianças atópicas.

Os fatores desencadeantes da dermatite atópica incluem:

  • Agentes infecciosos: nos pacientes com dermatite atópica as infecções representam a principal complicação, sendo o Staphylococcus aureus a principal bactéria envolvida. O Staphylococcus aureus também se comporta como super antígeno, perpetuando a inflamação crônica da doença. Os fungos também atuam como fatores desencadeantes de dermatite atópica, principalmente os do gênero Malassezia;
  • Alérgenos alimentares: a associação entre dermatite atópica e alergia alimentar até hoje é motivo de controvérsias. Observa-se discordância entre o número de exames de alergia positivos para alimentos, a história clínica e a reposta clínica após realizar a dieta de exclusão do alimento envolvido. Ou seja, muitas vezes mesmo havendo a presença de IgE específica (Imunocap ou teste alérgico) para um determinado alimento não existe melhora clínica da dermatite atópica após a exclusão do mesmo, indicando que a presença de IgE positiva para aquele alimento não significa alergia, mas apenas uma sensibilização. Por isso é necessário ter muito cuidado com dietas de exclusão desnecessárias, é preciso uma correlação clínica entre o resultado do exame, história clínica e o exame físico do paciente, já que um exame positivo para um alimento não significa necessariamente que o paciente seja alérgico. A interpretação errada dos exames de alergia alimentar pode levar a dietas desnecessárias que prejudicam o aporte nutricional dos pacientes pediátricos. A prevalência de alergia alimentar em crianças é maior nos casos de dermatite atópica moderada e grave, em crianças menores de 2 anos, e que não respondem ao tratamento habitual. Os principais alérgenos alimentares associados à dermatite atópica em crianças são: clara de ovo, leite de vaca e trigo;
  • Aero alérgenos: são os alérgenos existentes no ar, como, por exemplo, ácaros, fungos e epitélios de animais domésticos. Uma porcentagem elevada de pacientes com dermatite atópica, cerca de 30-50%, apresentam teste alérgico de contato positivo para ácaros. É comprovado que a simples inalação de alérgenos pode exacerbar as lesões da dermatite atópica. Os aero alérgenos mais relacionados à dermatite atópica são os da espécie Dermatophagoides pteronyssinus e farinae. A exposição ao mofo em ambiente úmido também pode favorecer a exacerbação das crises de dermatite atópica;
  • Autoantígenos: a ideia de que um mecanismo de autoimunidade poderia desempenhar papel na fisiopatologia da dermatite atópica é apoiada na observação de que esses pacientes exibem uma auto reatividade mediada por IgE contra uma variedade de antígenos proteicos humanos;
  • Fatores neuro-psico-imunológicos: a dermatite atópica piora com alguns fatores externos tais como: estímulos emocionais, físicos, químicos e biológicos, que provocam uma resposta mais acentuada nestes pacientes. Em até 70% dos pacientes com dermatite atópica existe uma associação comprovada com estresse. Além do fator emocional esses pacientes possuem um limiar diminuído para o prurido, ou seja, qualquer estímulo, por menor que seja, pode desencadear uma crise de coceira intensa e incontrolável.

Diagnóstico

O diagnóstico de dermatite atópica é baseado na história clínica, exame físico e exames complementares. As características das lesões, cronicidade, recidivas, o aspecto de distribuição das lesões, a idade do paciente e o comprometimento da qualidade de vida do paciente são importantes para a classificação da gravidade da doença e da conduta terapêutica.

A realização de exames auxilia na identificação de possíveis alérgenos e avaliação do sistema imunológico, sendo necessário essencial nas formas moderadas e graves de dermatite atópica. Entre os principais exames para uma investigação inicial destacam-se:

  • Contagem de eosinófilos no sangue periférico;
  • Dosagem dos níveis séricos de IgE total;
  • Testes cutâneos de leitura imediata (TCLI): mais conhecido com teste alérgico ou Prick test. A positividade nesse teste a um aero alérgeno ou a um alérgeno alimentar pode não apresentar relevância clínica, principalmente se o paciente apresenta níveis elevados de IgE total, já que nestes casos podem ocorrer reações de modo não específico. Devemos sempre lembrar que a presença do teste alérgico positivo a um determinado alimento pode indicar apenas sensibilização ao mesmo, e não necessariamente ele ser o desencadeador da doença em questão. Isso porque esse teste apresenta valor preditivo positivo de apenas 50%, ou seja, apenas metade dos casos em que o teste é positivo terá relação clínica verdadeira com a doença. O teste alérgico deve servir como uma triagem. Caso ele venha positivo para um alimento, devemos realizar o procedimento considerado padrão ouro para diagnóstico de alergia alimentar, que é realizar a exclusão do alimento e depois a provocação com o mesmo, avaliando se houve melhora e piora clínica respectivamente. Em contrapartida, se o teste alérgico for negativo, ele terá valor preditivo negativo de 90%, ou seja, em 90% das vezes que o teste for negativo, aquele alimento realmente não terá relação clínica com a doença. Entre os aero alérgenos mais envolvidos estão os ácaros D. pteronyssinus, D. farinae, Blomia tropicalis e B. kulagini. Entre os alérgenos alimentares merecem destaque o leite de vaca, a clara de ovo e o trigo;
  • Dosagem dos níveis séricos de IgE específica a alérgenos (Imunocap,Rast): a presença de IgE sérica específica a um determinado alérgeno, semelhante ao teste alérgico, documenta a sensibilização alérgica ao mesmo, não necessariamente tendo relação clínica com a doença. Antigamente era conhecido como Rast (radioallergosorbent), mas atualmente o método utilizado para a sua determinação é a imunofluorescência enzimática – conhecido como ImmunoCAP® (Thermo Fisher Scientifics, Uppsala, Suécia). Com o avanço da tecnologia molecular, utilizando-se o mesmo método de imunofluorescência enzimática foi possível investigar a sensibilização direcionada aos componentes constituintes da fonte alergênica, enfoque conhecido como CRD (sigla do inglês para Component Resolved Diagnosis, diagnóstico resolvido por componentes). Neste caso, são utilizadas proteínas recombinantes ou purificadas. Esse método permite a identificação mais precisa do alérgeno envolvido, assim como a possibilidade de reatividade cruzada entre fontes alergênicas que compartilham moléculas estruturalmente semelhantes, os pan-alérgenos, com quantidades mínimas de soro do paciente. Recentemente foi disponibilizado no Brasil o ImmunoCAP-ISAC® (microarray, Thermo Fisher Scientifics, Uppsala, Suécia). O ImmunoCAP ISAC é uma plataforma de imunoensaio que permite a medição simultânea de anticorpos específicos IgE em 112 componentes de alérgenos, de 51 fontes alergênicas, com uso de apenas 30 μl de soro ou plasma. É possível usar uma amostra sanguínea capilar, possibilitando um procedimento menos invasivo para testes em crianças.Porém o custo elevado desse exame limita seu uso de modo indiscriminado, ficando limitado aos pacientes com dermatite atópica grave;
  • Teste de contato para atopia (APT – atopy patch test): é um procedimento de uso ainda tímido e recente para a identificação de possíveis alérgenos nos pacientes com dermatite atópica grave. Em contraste com o teste alérgico, o teste de contato para atopia permite detectar sensibilização relevante na ausência de IgE específica. A resposta positiva ao teste de contato para atopia representa a expressão de reação imunológica mediada por linfócitos T ou uma reação de fase tardia mediada por IgE. Pode ser utilizado para investigar alergia a ácaros, pelos de animais, fungos, polens e alimentos. O teste de contato para atopia consiste na aplicação sobre a pele, em geral nas costas do paciente, de alérgenos de proteína intactas, com o uso de dispositivos próprios sendo fixados e ocluídos com micropore, permanecendo no local por 48 horas. A leitura do exame é realizada com 48, 72 e até 96 horas após a oclusão. O teste de contato para atopia para ácaros está melhor padronizado em relação a esse teste para alimentos, existindo várias dúvidas quanto ao tipo de alérgeno alimentar que deve ser utilizado. O teste de contato para atopia pode ser útil nos casos de dermatite atópica grave e de difícil controle, mas seu uso ainda é limitado pela falta de padronização dos antígenos e técnica a ser empregada;
  • Provocação oral com alimentos: representa o padrão ouro no diagnóstico de alergia alimentar em crianças com dermatite atópica. Depois de realizar uma dieta com a exclusão do alimento suspeito, por 4 a 6 semanas, o mesmo alimento é administrado em doses crescentes. A quantidade do alimento suspeito a ser oferecida e o período de observação para o aparecimento das reações alérgicas vão depender da história clínica e do tipo de reação alérgica que o paciente apresentou anteriormente. A provocação oral com alimento tem como objetivo identificar o alimento causador da doença, para que ele seja evitado, ou provar que aquele alimento não é o causador dos sintomas apresentados, não sendo necessária sua exclusão da dieta. Outra indicação para a realização da provocação oral com alimentos é quando desejamos avaliar se aquele paciente já se tornou tolerante, ou seja, deixou de apresentar manifestações clínicas a um determinado alimento. Pacientes com história de reações imediatas graves e sistêmicas à ingestão de alimentos, não devem realizar o teste de provocação oral já que existe uma correlação clínica evidente entre o consumo do alimento e as manifestações clínicas.

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Tratamento

Hidratação da pele

  • Uso de hidratantes:

Preserva a hidratação da pele e mantém a integridade da barreira cutânea restaurada. São a primeira linha de tratamento, recomendados para todas as formas da doença.

Uso de hidratantes de forma adequada diminui o número de crises agudas, melhora o ressecamento, o prurido e pode diminuir o uso de corticoides tópicos.

Para que a pele fique hidratada são necessárias, no mínimo, duas aplicações diárias do hidratante, de forma que cubra toda a pele do corpo e em quantidades adequadas.

A escolha do hidratante deve ser individualizada, mas os desenvolvidos especificamente para a dermatite atópica são os mais indicados, pois contêm substâncias com ação emoliente, princípios ativos e componentes que se encontram diminuídos na pele da criança com dermatite atópica, como ceramidas, glicerina, ácidos graxos e ésteres de colesterol.

Novos hidratantes que contêm novos princípios ativos capazes de restituir as funções da barreira cutânea ou que modificam o microbioma têm sido desenvolvidos, tais ativos incluem os lisados de Aquaphilus dolomiae ou Vitreoscilla filiformis.

Evitar hidratantes que contêm alérgenos como amendoim, leite ou trigo, sobretudo em pacientes menores de dois anos.

Hidratantes com lactato de amônio e a ureia em altas concentrações podem causar irritação na pele do paciente com dermatite atópica e devem ser evitados durante as crises.

Óleo de semente de girassol purificado melhora a barreira cutânea na dermatite atópica, enquanto o óleo de oliva e o óleo de semente de mostarda são prejudiciais para a reparação da barreira cutânea e podem causar eritema.

  • Compressas úmidas, conhecidas como wet dressings ou wet wraps: podem ser utilizadas com hidratantes para restaurar a barreira cutânea. Orienta-se aplicar o hidratante em grande quantidade na parte afetada pela dermatite atópica, depois vestir uma roupa ou faixa de algodão úmida por baixo e uma outra roupa/faixa seca por cima, devendo permanecer com essas compressas durante à noite. Essa técnica potencializa o poder de hidratação além de evitar que o paciente coce as lesões enquanto dorme. Em casos de crises agudas pode associar o uso de corticoide tópico na compressa úmida, o que leva a uma melhora importante das lesões diminuindo a necessidade do uso de corticoide oral. No Brasil temos disponíveis para compra dois produtos para realização das compressas úmidas: pijama calmante Stelatopia, disponível nos tamanhos de 6 a 12 meses e de 12 a 24 meses (mustela.com.br) e as faixas para compressa úmida da alergoshop (https://alergoshop.com.br/).
  • Sabonetes: o uso de sabonetes inadequados pode piorar o ressecamento da pele, levando a um aumento do prurido e quebra da integridade da barreira cutânea. Deve se usar sabonetes com pH levemente ácido (entre 5-6), como a nossa pele, e em pouca quantidade. Isso porque os sabonetes com PH ácido preservam a camada lipídica (de gordura) da pele. Os chamados sabonetes Syndets (synthetic detergente) são os ideais, pois são feitos de um tipo de detergente sintético que contêm menos de 10 % de sabão em sua composição e o PH ajustado ao da pele, provocando menos ressecamento e irritação. Ao contrário do que a maioria das pessoas pensam, tanto os sabonetes de glicerina quanto os com função anti-bacteriana não são adequados para crianças com dermatite atópica.
  • Banho: os banhos devem ser rápidos de 5 a 10 minutos, com água morna (entre 27 e 30 graus), com sabonete adequado, nunca usar esponjas, secar a criança com toalha macia e sem fricção. A aplicação do hidratante deve ser realizada nos primeiros minutos após o banho, com a pele ainda úmida.

Controle dos agentes infecciosos

Pode ser necessária a utilização de antibióticos tópicos ou orais para controle das infecções secundárias, já que a presença de infecção, principalmente por staphylococcus aureus, pode levar à exacerbação da doença.

Controle dos alérgenos alimentares

Dieta de exclusão do alérgeno alimentar quando comprovada sua relação clínica com a doença através do teste de provocação oral, devendo ser orientada pelo médico e pelo nutricionista, para que sejam feitas as substituições nutricionais adequadas daquele alimento.

Controle dos aero alérgenos

Para diminuir a exposição aos aero alérgenos (ácaros), feito através das medidas de controle ambiental.

Controle de agentes irritantes

As roupas devem ser leves e as fibras das roupas ideais são macias e de algodão por seu efeito mecânico de menor irritação. Retirar etiquetas das roupas. Devem ser evitados tecidos ásperos, de lã e materiais sintéticos em contato com a pele. Roupas quentes e oclusivas também podem levar a sudorese excessiva e piora do prurido, assim como ambientes muito quentes. Usar detergentes ou sabões líquidos e com pH neutro para lavar roupas. Roupas novas devem ser lavadas antes do uso a fim de reduzir a concentração de formaldeído e outras substâncias potencialmente irritantes.

Controle de fatores psicológicos e emocionais

Sabemos que o componente emocional e psicológico é muito importante no desencadeamento do prurido no paciente com dermatite atópica, além da própria doença poder levar a uma má qualidade de sono, irritabilidade, mal desempenho escolar e no trabalho, problemas de baixa autoestima e dificuldades no convívio social. Por esses motivos muitas vezes é necessário o acompanhamento com psicólogo.

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Medicamentos

  • Corticosteroides tópicos:

São agentes anti-inflamatórios e controlam os principais sintomas da dermatite atópica, como o prurido e as lesões eczematosas. Atualmente os consensos seguem a alternativa de utilizar corticosteroides de maior potência por curtos períodos, seguidos por compostos de menor potência por períodos mais longos.

Os corticosteroides estão indicados assim que a lesão inicia, ou seja, de forma reativa nas crises e as evidências sugerem que a aplicação uma vez ao dia de alguns compostos é tão eficiente quanto a de duas vezes ao dia, sendo que atualmente as novas formulações recomendam apenas uma aplicação diária. O tempo de uso recomendado nas crises é até que ocorra melhora significativa da lesão e redução da sua espessura. Para isso, podem ser necessários dias ou até semanas.

O uso de corticosteroides na terapia proativa (aplicar duas vezes por semana nas áreas que ocorrem lesão, mesmo quando ainda não existe lesão ativa) mostrou-se eficiente em reduzir as crises, diminuir a gravidade da doença e reduzir a produção de IgE contra aero alérgenos, podendo ser uma opção para os pacientes com crises frequentes. Porém podem apresentar efeitos colaterais caso haja uso inadequado da medicação, como: atrofia cutânea, estrias, alterações da pigmentação, fragilidade vascular resultando em telangiectasias e erupção acneiforme. Alguns destes efeitos colaterais podem ser permanentes. Efeitos sistêmicos, como supressão do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, são raramente descritos, mas podem ocorrer quando são utilizados corticosteroides tópicos em áreas extensas por períodos prolongados ou corticosteroides de alta potência sob oclusão. Por isso, a indicação do uso de corticoide tópico deve ser sempre orientada por um médico e nunca de forma indiscriminada.

Exemplos: corticoides tópicos de alta potência: clobetasol e betametasona; corticoides tópicos de média potência: mometasona, desonida, fluocinolona; corticoides tópicos de baixa potência: hidrocortisona e dexametasona.

  • Inibidores da calcineurina tópicos:

Os inibidores da calcineurina são uma classe de medicamentos utilizados nas crises para o controle da inflamação na dermatite atópica. Estão disponíveis dois inibidores tópicos de calcineurina: o pimecrolimo e o tacrolimo. No Brasil, o pimecrolimo pode ser indicado a partir dos três meses de idade e com única apresentação em creme na concentração de 1 %. O tacrolimo é indicado a partir dos dois anos de idade, com apresentações em pomada 0,03% (uso pediátrico) e 0,1% (uso em maiores de 16 anos). Como não apresentam os mesmos efeitos colaterais que os corticoides tópicos, podem ser utilizados com maior segurança na face, nos genitais e nas áreas próximas a mucosas. São apontados como tratamento de primeira escolha em pacientes com lesões de pálpebra.

  • Anti-histamínicos orais:

Não devem ser usados com primeira escolha para tratar a coceira na dermatite atópica, pois os mecanismos que levam a coceira nesta doença são desencadeados pela ação de outras substâncias, chamadas de interleucinas, e não tanto pela ação da histamina.

  • Ciclosporina

É um imunossupressor que inibe as vias dependentes da calcineurina, resultando em níveis reduzidos de várias citocinas pró-inflamatórias. É uma droga eficaz, utilizada nos casos de dermatite atópica moderada a grave, tanto em crianças como em adultos, em que a terapêutica convencional foi ineficaz ou inapropriada. Por ser uma droga imunossupressora é necessário um monitoramento frequente do paciente principalmente da função renal e da pressão arterial e, havendo alterações laboratoriais ou aumento da pressão arterial, a ciclosporina deve ser interrompida ou sua dose reduzida. O tempo de tratamento deve ser de 3 meses a um ano e, em crianças, deve considerar-se que as vacinas podem não ser eficazes durante o seu uso, decorrente da imunossupressão.

  • Corticoides sistêmicos

Apesar do uso frequente na prática clínica, a corticoterapia sistêmica no tratamento da dermatite atópica é limitada pelos conhecidos efeitos colaterais e escassez de estudos controlados em longo prazo em adultos e crianças. Desse modo, seu uso deve ser extremamente cauteloso e restrito a casos excepcionais. Alguns pacientes podem se beneficiar de cursos rápidos de corticoides sistêmicos nas agudizações graves, entretanto a melhora clínica é frequentemente associada à recorrência dos sintomas após a retirada da medicação (efeito rebote), resultando em casos de difícil controle. O uso frequente do corticosteroide oral implica na instituição de outras terapias imunossupressoras para evitar a necessidade de seu uso.

  • Fototerapia

Principalmente UVB-NB (banda estreita). A utilização de radiação ultravioleta com fins terapêuticos é antiga na medicina, especialmente para dermatoses inflamatórias, como psoríase e vitiligo. A utilização como adjuvante no tratamento da dermatite é mais recente, mas já consagrada na literatura.

No controle da dermatite atópica, a fototerapia é boa opção terapêutica para melhorar as lesões de pele, prurido e alterações do sono, com períodos de remissão prolongados de até seis meses e sem efeitos adversos sérios. Especificamente na terapêutica da dermatite atópica, os espectros mais empregados são UV-NB (banda estreita, de “narrow band”) e UVA-1.

O UVA-1 é principalmente indicado em casos moderados a graves com lesões agudas ou subagudas. O método pode ser usado tanto em crianças como adultos, sendo os tempos de exposição longos. As limitações ao uso do UVA-1 são de custo mais elevado e a necessidade de três a cinco sessões por semana. Já o UVB-NB é indicado para casos crônicos, com lesões liquenificadas e não muito espessas. Também constitui atualmente método de escolha na transição de tratamentos imunossupressores sistêmicos, como ciclosporina ou metotrexato para os tópicos. No entanto, devemos evitar usar a fototerapia em conjunto com estas drogas.

Em conclusão, a fototerapia pode melhorar ou mesmo clarear as lesões da dermatite atópica, diminuir a colonização bacteriana e reduzir a necessidade e potência dos corticosteroides tópicos, mas os efeitos benéficos variam de paciente a paciente.

IMUNOBIOLÓGICOS:

Os imunobiológicos são estruturalmente anticorpos ou receptores, direcionados a um alvo específico. São verdadeiros “bisturis farmacológicos”, capazes de interações pontuais no sistema imune. Seus mecanismos de ação principais são: Bloqueio de substâncias inflamatórias e solúveis no sangue, chamadas de citocinas.

Os imunobiológicos para tratamento da dermatite atópica estão hoje disponíveis para modificar a resposta Th2, bloqueando IgE e as citocinas como IL-4, Il-13 e Il-22, IL-32, Il-17/IL-2350

Atualmente no Brasil temos disponíveis apenas o Dupilumabe(Dupixent). Ele é um anticorpo monoclonal do tipo IgG4, que inibe o receptor da IL-4 e IL-13 na resposta inflamatória do tipo 2. É um medicamento bem tolerado e com boa resposta, sendo o primeiro imunobiológico aprovado pela Anvisa para tratamento da dermatite atópica de moderada a grave e que não estão bem controlados com as terapias usuais. Recentemente foi liberado para crianças maiores de 6 meses de idade.

INIBIDORES DA JAK

Os inibidores de JAK são pequenas moléculas, ou seja, medicamentos com baixo peso molecular, que conseguem facilmente atravessar a membrana celular e atingir alvos intracelulares. Assim, agem inibindo a sinalização mediada por citocinas específicas, agindo em cadeias de receptores específicos dos subtipos da Janus Kinase – JAK-1, JAK-2, JAK-3 e/ou Tirosina-Kinase 2 (TYK-2). Esse bloqueio seletivo de sinalização dos grupos de citocinas é uma característica do efeito imunomodulador dos inibidores de JAK em comparação com os imunossupressores convencionais (p. ex., ciclosporina ou corticosteroides), que suprimem vários mediadores inflamatórios levando a diversos efeitos colaterais. São medicações novas e promissoras no tratamento de doenças inflamatórias e auto-imunes como a dermatite atópica. Atualmente no Brasil está liberada apenas o Upadacitinibe (Rinvoq) para pacientes acima de 12 anos de idade com dermatite atópica de moderada à grave.

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