Especialidades

Alergia Alimentar

Definição

Alergia Alimentar é uma reação adversa a um determinado alimento, não tóxica e que envolve um mecanismo imunológico, de apresentação clínica muito variável, com sintomas que podem surgir na pele, no sistema gastrointestinal e respiratório. As reações podem ser leves, como simples coceira nos lábios, até reações mais graves que podem comprometer vários órgãos (anafliaxia).

A alergia alimentar resulta de uma resposta exagerada do organismo a uma determinada substância presente nos alimentos, mas que depende da predisposição genética e de um contato prévio com esse alimento. Estima-se que as alergias alimentares acometam 6% a 8% das crianças com menos de 3 anos de idade e 2% a 3% dos adultos. Pacientes com outras doenças alérgicas têm maior chance de desenvolver alergia alimentar, sendo encontrada em 38% das crianças com dermatite atópica e em 5% das crianças com quadro de asma.

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Estudos indicam que de 50% a 70% dos pacientes com alergia alimentar possuam história familiar de alergia. Na infância, os principais alimentos causadores de alergia alimentar são leite de vaca, ovo, trigo e soja, que em geral são transitórias. Menos de 10% dos casos persistem até a vida adulta.

Aditivos alimentares são representados por antioxidantes, flavorizantes, corantes, conservantes ou espessantes. Apesar desses aditivos alimentares serem frequentemente relacionados com manifestações alérgicas, como urticária, angioedema, asma ou anafilaxia, são extremamente raras (menos que 1 % na população em geral) e de difícil comprovação, embora possa parecer um pouco mais prevalente entre crianças alérgicas (2% a 7%).

Os aditivos mais implicados em reações adversas (não necessariamente alérgicas) são os sulfitos, o glutamato monossódico, a tartrazina e o vermelho carmin. Por não provocarem uma reação verdadeiramente alérgica, à exceção do vermelho carmim, um corante de origem proteica, não existem exames de alergia para tais aditivos alimentares e a única maneira de se fazer o diagnóstico é através do teste de provocação oral.

Classificação das alergias alimentares de acordo com os mecanismos imunológicos envolvidos:

  • Alergia alimentar mediada por IgE: são reações alérgicas imediatas. Neste tipo de reação, o sistema imune produz anticorpos chamados imunoglobulina E ou IgE. Existe um tipo de IgE para cada proteína alimentar e é a identificação desse anticorpo IgE específico que buscamos nos testes alérgicos tanto in vivo (prick teste ou teste alérgico) quanto in vitro (rast ou imunocap). Os sintomas, que podem ser gastrointestinais, de pele e/ou respiratórios, podem surgir entre alguns minutos até 2 horas após a exposição ao alérgeno. Neste caso, as reações podem ser leves, moderadas e também graves (com risco de morte), quando ocorre a anafilaxia, a forma mais grave de reação alérgica. Exemplos de manifestações clínicas de alergia IgE mediada: urticária e angioedema;

  • Alergia alimentar não mediada por IgE: são as reações que costumam demorar mais para aparecer, algumas horas ou até dias após a ingestão do alimento alergênico. Não há produção de imunoglobulina IgE específica; são outras células do nosso corpo que reagem aos alimentos. Por isso, nesses casos, não justifica realizar exames de alergia (teste alérgico e/ou rast e imunocap). A maioria dos sintomas desse tipo de alergia alimentar envolve o trato gastrointestinal (esôfago, estômago e intestino), com diarreia com ou sem sangue visível nas fezes, refluxo (aparente ou oculto), baixo ganho de peso, entre outros. Exemplos de manifestações clínicas de reação não IgE mediada: FPIES e proctocolite eosinofílica;

  • Alergia alimentar de reação mista: nas alergias mistas, o tempo de aparecimento dos sintomas pode variar muito, imediatos ou até dias para se manifestar. Os sintomas são decorrentes de uma mistura de ações de várias células, podendo ou não ter também a participação dos anticorpos IgE. Exemplos de manifestações clínicas de reação mista: dermatite atópica e esofagite eosinofílica.

Manifestações clínicas

As principais manifestações clínicas da alergia alimentar envolvem a pele e o sistema gastrointestinal. O envolvimento exclusivo do sistema respiratório (rinite e asma) por alergia alimentar é extremamente raro, ocorrendo, na maioria das vezes, associado a sintomas cutâneos e/ou do trato gastrintestinal.

No entanto, quando os sintomas respiratórios estão presentes em quadros agudos da alergia alimentar, estão associados à manifestação clínica mais grave da alergia:  a anafilaxia. Por outro lado, quando asma e rinite ocorrem apenas pela inalação de partículas alimentares e não pela ingestão da mesma, são, em geral,  doenças profissionais e podem acometer pessoas que trabalham em contato direto com o alimento. Exemplo clássico é a chamada “asma e rinite do padeiro”, em que os padeiros manifestam sintomas respiratórios de alergia após inalar partículas de farinha de trigo.

Exemplo das principais manifestações clínicas de alergia alimentar:

Principais alérgenos alimentares

Soja

A alergia à soja tem se mostrado cada vez mais presente no Brasil, especialmente na infância, e pode persistir mesmo na idade adulta. Parte dos alérgicos ao leite podem também desenvolver alergia à soja, sendo mais comum nos casos de reações não imediatas com sintomas gastrointestinais.

A grande maioria dos alérgicos à soja não têm reações ao óleo e lecitina de soja, pois estas apresentações são compostas por basicamente lipídios (gordura), com um baixo percentual proteico (parte do alimento que causa a alergia). No entanto, existem aqueles alérgicos que são mais sensíveis e necessitam fazer uma restrição total da soja. Por isso é sempre necessário acompanhamento e orientação do profissional de saúde.

Trigo

Distúrbio relacionado ao glúten é um termo geral para todas as condições desencadeadas pela ingestão de alimentos que contenham uma proteína chamada glúten.

Os distúrbios relacionados ao glúten são divididos em três categorias principais: alergia ao trigo, sensibilidade não celíaca ao glúten (SNCG) e doença celíaca.

O glúten age como uma cola que mantém os alimentos juntos e pode ser encontrado em produtos como pães, massas e macarrão. Todas as pessoas com doenças e distúrbios relacionados ao glúten apresentam reações à ingestão dele. Os sintomas gastrointestinais de todos esses três distúrbios podem parecer semelhantes e o fato de que todos parecem ser causados pelo trigo pode dificultar o diagnóstico. No entanto, os três são distintos.

  • Alergia ao trigo: é uma reação de hipersensibilidade, ou seja, alérgica, que envolve mecanismos imunológicos e pode ter manifestações clínicas respiratórias, gastrointestinais e/ou cutâneas, de intensidades variáveis. A alergia ao trigo é mais observada em crianças e, geralmente, é superada até a idade escolar. Raramente, ela pode provocar reações graves, como anafilaxia. Neste caso, os exames que podem auxiliar o diagnóstico são testes alérgicos (in vitro e/ou in vivo).

Em raras ocasiões, a ingestão do trigo seguida da realização de exercícios físicos pode resultar no “choque dos corredores”, também conhecido como AIEDA (anafilaxia induzida por exercício dependente de alimento). Uma parte alergênica especial do trigo, chamada ômega – 5 – gliadina, muitas vezes é a responsável por esse tipo de reação alérgica.

Embora as reações alérgicas geralmente ocorram ao ingerir o trigo, elas também podem ocorrer por inalação da farinha de trigo, evoluindo clinicamente com uma crise de asma, caracterizada como ocupacional, pois ocorre em trabalhadores expostos à manipulação de alimentos feitos com trigo. E por isso também conhecida como “asma dos padeiros”.

Na alergia ao trigo, o paciente pode consumir todos os demais cereais que contêm glúten desde que também não seja alérgico a esses alimentos (exemplo: centeio, cevada, aveia, malte).

  • Doença celíaca: é uma doença inflamatória crônica do intestino delgado, autoimune, causada pela ingestão de alimentos contendo glúten. Essa inflamação crônica intestinal leva à má absorção dos alimentos e, por consequência, danos à saúde. Pode ter seu início na infância ou na vida adulta, além de ter grande relação familiar. Nas crianças, os principais sintomas da doença celíaca são: distensão abdominal e dor, diarreia crônica, vômitos e constipação. Mas também podem apresentar outros sintomas não digestivos, como fadiga, irritabilidade, problemas comportamentais, retardo de crescimento e de puberdade, e atraso no desenvolvimento. Neste caso, os exames que podem auxiliar o diagnóstico são os testes sorológicos no sangue e, quando necessário, biópsia intestinal.

No caso da doença celíaca, devem ser excluídos da dieta do paciente todos os cereais que contêm glúten (trigo, triticale, kamut, spelta, centeio, cevada e malte). Então CUIDADO: os produtos que são rotulados como livres de trigo não são necessariamente sem glúten. Além disso, embora a aveia não contenha glúten, muitas vezes é processada em instalações que também produzem grãos que contêm glúten e pode ser contaminada. Portanto, deve se certificar que a aveia não tem contaminação com glúten.

  • Intolerância ao glúten ou sensibilidade não celíaca ao glúten: ocorre quando uma pessoa apresenta sintomas semelhantes aos da doença celíaca, mas não tem de fato essa doença. Muitas vezes, o diagnóstico da sensibilidade não celíaca ao glúten é de exclusão: ela não é uma reação alérgica, como a alergia ao trigo, e também não é uma reação autoimune, como a doença celíaca. Nas crianças os sintomas da sensibilidade não celíaca ao glúten são tipicamente digestivos, como dor abdominal e diarreia crônica, mas o cansaço também é uma queixa frequente. Neste caso, como na doença celíaca, também devem ser excluídos da dieta do paciente todos os cereais que contêm glúten (trigo, triticale, kamut, spelta, centeio, cevada e malte).

Leite de Vaca

Na infância, o leite é o principal alimento que causa alergia alimentar. Em muitos casos, essa alergia alimentar é passageira, mas em outros é possível que persista mesmo na idade adulta. Quem tem alergia ao leite de vaca não pode consumi-lo e nem mesmo os seus derivados. Os leites sem lactose, tipo A2 ou leites de outros mamíferos também não devem ser consumidos.

Não existe “alergia à lactose”. Lactose é o açúcar do leite, um carboidrato composto por glicose e galactose. Para digerir a lactose, o organismo utiliza a enzima lactase. Ocorre que algumas pessoas não produzem essa enzima ou a produzem em quantidade insuficiente, gerando o que se chama de intolerância à lactose. Os sintomas costumam ser gastrointestinais (diarreia ou constipação, dor abdominal, flatulência, má digestão, entre outros).

Muitos intolerantes conseguem consumir alguma quantidade de lactose, outros são mais sensíveis e nenhuma quantidade é tolerada. Os produtos sem ou com baixa lactose costumam ter a enzima lactase adicionada, mas, por manterem as proteínas do leite, são proibidos para alérgicos ao leite.

Já a alergia ao leite de vaca se dá por uma  reação imunológica desencadeada contra uma ou mais proteínas presentes no leite de vaca, podendo ter as  mais variadas manifestações clínicas (gastrointestinais, de pele e /ou respiratórias) e de intensidade também variadas, desde sintomas leves até graves, como a anafilaxia. Tanto o tipo de manifestação clínica, intensidade e evolução para tolerância (cura), vão depender do tipo de mecanismo de alergia que envolve essa reação alérgica: IgE mediado, não IgE mediado ou misto.

Outro fator importante para avaliar a gravidade e o prognóstico da alergia ao leite de vaca é o tipo de proteína do leite que o paciente é alérgico. Existem três principais proteínas alergênicas no leite de vaca: alfa-lactoalbumina, beta -lactoglobulina e caseína.

Em geral, quando existe a presença de anticorpos IgE contra a proteína caseína, as reações tendem a ser imediatas, de maior intensidade e com história mais prolongada para a cura, pois essa proteína é termoestável. Ou seja, não é quebrada (enfraquecida) com o processo de cozimento ou em alimentos processados. Já nos casos em que as proteínas identificadas como causadoras da alergia são a alfa-lactoalbumina e beta-lactoglobulina, as reações alérgicas tendem ser mais amenas com maior chance de cura e os pacientes podem tolerar alimentos processados que contenham leite de vaca.

Fórmulas de substituição para o leite de vaca: nos casos de alergia ao leite de vaca, com a impossibilidade da criança receber aleitamento materno e/ou necessidade de complementação, a substituição deve ser feita por fórmulas especiais adequadas à idade, de acordo com orientação do profissional de saúde.

Lembrando que a alergia alimentar não é razão para suspensão da amamentação, devendo ser preferencialmente orientado à mãe, quando possível, a realização da exclusão da proteína do leite de vaca de sua dieta.

O uso de fórmulas hipoalergênicas com proteína parcialmente hidrolisada como, por exemplo, Nan HA, Aptamil HA, NAN sensitive, Gentelease, Aptamil active ou Similac sensitive, não são indicadas para tratamento de alergia ao leite de vaca.

Quando existe uma suspeita ou confirmação de alergia ao leite de vaca deve-se utilizar  fórmulas extensamente hidrolisadas que contêm lactose (Aptamil Pepti, Althéra), fórmulas extensamente hidrolisadas sem lactose (Pregomin Pepti, Nutramingen, ,Alfaré, Pregestimil), fórmulas  à base de  aminoácidos (Neocate, Puramino, Alfamino), fórmulas infantis à base da  proteína de arroz (Novamil) ou   fórmula à base de proteína de  soja (Aptamil soja, Nan Soy, Isomil).

Não se indica a fórmula à base de proteína de soja para menores de 6 meses de idade. A escolha do tipo de fórmula vai depender da idade do paciente, das manifestações clínicas e tipo de reação imunológica envolvida.

As bebidas vegetais (chamados “leites vegetais”), como de arroz, castanhas, inhame ou sementes, devem ter seu uso restrito a preparações culinárias, sempre com orientação do profissional de saúde. Não devem substituir nem o leite materno nem as fórmulas especiais, pois são pobres em nutrientes e inadequadas para o consumo de bebês e crianças pequenas, principalmente até 2 anos de idade.

Leite de outros mamíferos: quando se tem alergia a proteínas do leite de vaca, deve-se igualmente excluir da dieta leites de quaisquer outros mamíferos como cabra, ovelha e búfala, pois existe uma grande possibilidade de reação alérgica cruzada às proteínas dos leites desses outros animais.

Leite A2: alguns fabricantes têm tentado desenvolver leites de vaca modificados geneticamente para a proteína caseína, uma das proteínas do leite. Eles não são indicados como substitutos do leite para quem tem alergia, uma vez que o leite é composto por várias outras proteínas que também causam alergia (alfa-lacto-albumina e lacto-globulina).

Ovo

Uma pessoa pode ser alérgica à clara, à gema ou ambas, mas, de qualquer forma, as pessoas com alergia ao ovo devem evita-lo por inteiro, já que não é possível separar completamente essas duas partes. O ovo é a segunda causa de alergia alimentar em bebês e crianças pequenas, precedida apenas pelo leite de vaca. Mas, felizmente, cerca de 70% das crianças com alergia ao ovo irão se tornar tolerantes (evoluir para cura).

Algumas proteínas alergênicas do ovo podem mudar de forma após seu aquecimento, se tornando instáveis. Isso permite, para algumas pessoas, consumir o ovo em alimentos assados, como bolos, tortas e biscoitos. Estudos mostram que 70% das crianças com alergia ao ovo podem tolerar alimentos assados que contenham ovo.

À exemplo do leite, tanto a intensidade das manifestações clínicas quanto a chance de evolução para a cura estão relacionados com qual proteína do ovo o paciente apresenta alergia. Por exemplo, se o paciente é alérgico à proteína ovoalbumina, existe a possibilidade desse paciente comer alimentos assados que contenham ovos, ter manifestações alérgicas mais amenas e maior chance de cura. Já o contrário acontece quando a principal proteína causadora da alergia é a proteína ovomucóide.

Frutos do mar

Os “frutos do mar” são divididos em peixes e mariscos, porém são biologicamente diferentes. Portanto, os peixes não causarão uma reação alérgica em uma pessoa com alergia a mariscos, ou vice-versa. A alergia a frutos do mar pode resultar em anafilaxia, uma reação alérgica possivelmente fatal. Muitas pessoas desenvolvem essa alergia já adultas (60% das alergias a mariscos e 40% das alergias a peixe começaram na vida adulta) e suas reações podem ser graves. Essas alergias podem ser causadas por frutos do mar que você já comeu antes sem problemas, mas, uma vez que você desenvolve uma alergia desse tipo, geralmente a terá por toda a vida.

Os mariscos dividem-se em dois grupos diferentes: crustáceos e moluscos. Algumas pessoas com alergia a mariscos são alérgicas a ambos os tipos, enquanto outras são alérgicas a apenas um deles.

Os crustáceos incluem: camarão, caranguejo, lagostim, lagosta, pitu. Os moluscos incluem: amêijoas, mexilhões, ostras, calamares, lulas, polvos, caramujos, vieiras.

Ao contrário do que muita gente pensa, a alergia a camarão não é um fator de risco para reações adversas aos exames com contraste iodado. A alergia ao camarão está relacionada com proteínas constituintes do camarão (tropomiosina) e não ao iodo.

As reações adversas aos meios de contraste são, na maioria das vezes, decorrentes de mecanismos não alérgicos e relacionadas com a alta osmolaridade dos contrastes iodados. Os principais fatores de risco para reações adversas aos contrastes iodados são: histórico de reação prévia a contraste, doença cardiovascular, insuficiência renal e idade acima de 50 anos. O tipo de contraste também influência na maior ou menor chance de reações adversas, os que possuem menor osmolaridade (contrastes iodados não iônicos) tem menor risco de reações adversas.

A alergia a peixe não é tão comum quanto as outras alergias alimentares, mas é importante levá-la tão a sério quanto as outras, pois pode causar as mesmas reações graves e costuma acompanhar o alérgico por toda a vida. A proteína responsável pela alergia a peixe (parvalbumina) costuma estar presente em muitas espécies de peixe, sendo possível apresentar reações alérgicas a várias espécies diferentes (ex. peixe-espada, linguado, atum, bacalhau, salmão).

Amendoim

A alergia ao amendoim é muito comum em outros países, como os Estados Unidos, pelo costume do consumo de pasta de amendoim. Geralmente, as reações alérgicas ao amendoim são a causa mais comum de anafilaxia fatal induzida por alimentos, e os grupos de maior risco são os adolescentes com asma. Além disso, na maioria das vezes, a alergia ao amendoim dura por toda a vida e somente cerca de 20% das pessoas com essa alergia evoluem para a cura.

Apesar de muitas pessoas alérgicas ao amendoim relatarem também serem alérgicas à castanha, esses alimentos são de classes diferentes. Isso porque o amendoim não é um tipo de castanha e sim uma leguminosa. O alérgico ao amendoim também não deve consumir seus derivados como pastas, manteigas e óleos. Como o amendoim pode estar oculto em diversos alimentos é necessário sempre ler o rótulo antes de consumir qualquer alimento.

Castanhas

A alergia a uma (ou mais) castanhas (s) é comum e, na maioria das vezes, essa alergia dura por toda a vida, menos de 10% das pessoas evoluem para a cura. Esse grupo inclui diversos tipos de castanhas: amêndoa, avelã, castanha de caju, castanha do brasil ou do Pará, macadâmia, nozes, pecã, pistache e pinoli. Se você tiver alergia a um tipo de castanhas, terá mais chances de ser alérgico aos outros tipos também. Além disso, a contaminação cruzada entre vários tipos de castanhas é comum durante o processamento do fabricante. Assim, muitas pessoas com alergia a um tipo de castanha costumam evitar todos eles.

Pessoas alérgicas a castanhas também não devem consumir seus derivados como manteigas e óleos. As castanhas podem ser encontradas em muitos alimentos e bebidas, como: bolachas, cookies, barras de cerais, chocolates, mortadela, cereais, pães, sobremesas congeladas, cafés aromatizados, bebidas alcóolicas e licores, além de também poderem estar presentes em loções bronzeadoras, hidratantes, xampus, óleo de banho e sabonetes. Por isso é sempre importante olhar o rótulo antes de consumir qualquer produto.

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Diagnóstico

O diagnóstico de alergia alimentar é feito, inicialmente, pela história clínica detalhada das manifestações clínicas e exame físico.

Os principais exames complementares para o diagnóstico de alergia alimentar incluem o teste alérgico (prick test), dosagem sérica de IgE específica no sangue, teste cutâneo de contato (patch test) e endoscopia digestiva alta. A realização ou não de exames complementares e qual será necessário realizar vai depender da idade do paciente, das manifestações clínicas e do tipo reação alérgica envolvida.

No entanto, não devemos esquecer que  a presença de um exame de alergia positivo para um determinado alimento não confirma 100% o diagnóstico, é necessário a confirmação do envolvimento desse alimento com o aparecimento das manifestações clínicas, já que a presença de IgE específica para um alimento pode  mostrar apenas uma sensibilização do paciente a esse alimento e não uma alergia alimentar verdadeira. O procedimento considerado padrão-ouro para definir o diagnóstico de alergia alimentar é o teste de provocação oral.

O teste de provocação oral é a última etapa para o diagnóstico de alergia alimentar. O teste de provocação oral deve ser feito sob supervisão de um médico e o local que será realizado, em ambiente hospitalar, consultório ou domiciliar, irá depender do tipo de reação alérgica apresentada por aquele paciente.

Os pacientes que manifestam a alergia através de reações IgE mediadas ou imediatas, deverão realizar o teste de provocação oral em ambiente hospitalar, ou consultório, desde que tenha suporte necessário em caso de reações alérgicas graves. O teste de provocação oral com alimentos consiste na exclusão do alimento suspeito por um período e depois voltar a introduzi-lo de forma gradual e individualizada( dependendo do mecanismos de alergia envolvido) para observar se os sintomas de alergia melhoram e pioram, respectivamente, com a exclusão e posterior exposição daquele alimento suspeito.

Caso o paciente apresente novamente reações, a alergia está confirmada e o paciente será orientado a manter a dieta de exclusão desse alimento. No teste de provocação oral com alimentos a apresentação do produto (cru, cozido ou derivados), a quantidade e o tempo de exposição necessário àquela proteína alimentar é individualizado.

No caso das crianças em aleitamento materno exclusivo, a provocação oral será feita introduzindo o alimento suspeito na dieta materna.

O teste de provocação oral também é usado para verificar se o alérgico ainda apresenta reações alérgicas, ou seja, para verificar aquisição de tolerância.

Tratamento

O tratamento da alergia alimentar inclui:

  • Tratar as reações agudas (primeiro episódio de alergia ou contatos acidentais) cujas medicações dependerão dos tipos de manifestações clínicas e intensidade das mesmas;

  • Orientar a família sobre um plano de ação caso aconteça um contato acidental com o alimento alergênico, incluindo os possíveis tipos de manifestações clínicas, quais medicações e dose a utilizar e em que situação procurar um hospital;

  • Orientar a família, quando houver indicação, sobre a necessidade de possuir uma caneta de adrenalina auto injetável, onde comprar e como usá-la;

  • Orientar a exclusão total do alimento envolvido na alergia alimentar, exceto em casos específicos em que o paciente possa consumir o alimento processado, enfatizando a importância de SEMPRE ler o rótulo dos alimentos;

  • Orientação nutricional com especialista, quando necessário;

  • Dessensibilização oral ou imunoterapia oral: procedimento que consiste em oferecer a proteína do alérgeno alimentar envolvido, por exemplo leite de vaca, em uma quantidade extremamente pequena, de forma repetida e progressiva, com o objetivo de tornar o organismo tolerante àquela proteína alimentar.

A dessensibilização oral é indicada quando a alergia alimentar envolve alimentos que são mais comuns na alimentação diária, como leite de vaca, ovo e trigo. (Isso deixa o paciente muito vulnerável na alimentação do dia a dia), quando as manifestações clínicas são potencialmente graves, como nos casos de anafilaxia e quando existe a persistência dos sintomas da alergia alimentar após uma certa idade, em geral, após os 5 anos de vida.

Este é um grande avanço no tratamento das alergias alimentares, pois embora não seja a cura definitiva das alergias alimentares, a dessensibilização oral diminui a probabilidade de reações fatais em exposições acidentais. Porém é importante ressaltar que o paciente deve continuar ingerindo doses diárias dessa proteína alimentar para manter essa tolerância; caso contrário as reações podem voltar a se manifestarem. Esse procedimento deve ser feito apenas por profissionais habilitados e em ambiente hospitalar sob monitoramento médico, pelas possíveis reações alérgicas que podem ocorrer durante a dessensibilização oral de um alimento.

Vacinação em alergia alimentar

A possibilidade de alguma vacina ter um ingrediente alergênico não deve ser impeditivo para a vacinação. A vacinação é muito importante e protege contra doenças perigosas, algumas delas podem levar até à morte. Por isso, caso seu filho seja alérgico à algum alimento, peça orientação ao seu médico.

No caso de alergia a leite, observar:

  • VACINA TRÍPLICE VIRAL (sarampo, rubéola e caxumba): A vacina tríplice viral do laboratório Serum Institute não deve ser aplicada em alérgicos ao leite, devendo ser solicitada vacina de outros laboratórios.

  • VACINA HEXAVALENTE: A vacina hexavalente do laboratório GSK tem contraindicação apenas para alérgicos a leite do tipo IgE mediado. Alternativas: administrar a vacina pentavalente e separadamente da vacina contra hepatite B; ou adminstrar a vacina hexavalente acelular do laboratório Sanofi Pasteur.

No caso de alergia a ovo, observar:

  • VACINA DA FEBRE AMARELA (alérgicos a ovo que apresentem as seguintes reações):

  • VACINA DA GRIPE: A vacina pode ser aplicada para qualquer grau de alergia a ovo. Para aqueles que apresentam como quadro clínico da alergia a anafilaxia, devem ficar em observação por 30 minutos, após serem vacinados.

  • VACINA TRÍPLICE OU TETRA VIRAL: A vacina pode ser aplicada para qualquer grau de alergia a ovo. Testes cutâneos com a vacina não estão recomendados.

  • Reações gastrointestinais (não mediados): vacinar normalmente;

  • Reações leves a moderadas (como urticárias): vacinar sob supervisão médica e ficar em observação;

  • Reações graves (como anafilaxia): em áreas de risco, em que a necessidade da vacinação se faz presente, sempre encaminhar o paciente para local especializado (CRIES ou médico especialista) para que seja feita uma avaliação. Pode ser realizado um teste cutâneo com a vacina e, se der negativo, vacinar sob supervisão médica e em local com suporte adequado caso ocorra alguma reação. Caso o teste cutâneo com a vacina seja   positivo, e a vacinação seja necessária, indicar o fracionamento da dose (dessensibilização), que deverá ser realizado em ambiente hospitalar por profissional treinado.

Atenção!! Procure saber se em sua cidade existe o CRIE (Centro de Referência a Imunobiológicos Especiais), centro onde é realizado, gratuitamente, vacinas para pacientes alérgicos ou imunodeficientes.

Prevenção das alergias alimentares

E a prevenção das alergias, é possível? A grande parte das alergias alimentares tem relação hereditária. Famílias com um ou os dois pais alérgicos (mesmo que não sejam alergias alimentares) têm maior chance de ter um filho com alergia alimentar. A chance também aumenta se um outro filho tem alergia alimentar. Atualmente, o Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), publicado em 2018, e o Guia sobre Alergia Alimentar da Academia Europeia de Alergia e Imunologia (EAACI), publicado em 2017, trazem algumas orientações importantes sobre o tema:

  • Dieta na gravidez: não se recomenda nenhuma restrição alimentar na gravidez. Não existem estudos que comprovem que algum tipo de restrição na gestação pode inibir o aparecimento de alergias alimentares. O acompanhamento médico e nutricional no pré-natal é imprescindível de forma a garantir que não haja qualquer prejuízo para a mãe ou ao bebê.

  • Aleitamento materno: A amamentação exclusiva nos primeiros 6 meses de vida do bebê tem um papel importante na apresentação dos alergênicos ao organismo do bebê e de proteção contra infecções. Nos primeiros dias de vida há a maior chance de sensibilização alérgica e, portanto, o aleitamento materno deve ser encorajado e promovido desde a sala de parto (sendo parto normal ou cesárea).

  • Dieta “preventiva” na amamentação: não é indicado que a mãe faça dieta de qualquer alimento para prevenir alguma alergia no bebê. Muito ao contrário, quanto mais variada é a dieta materna, menor a chance de o bebê desenvolver alergias alimentares. A retirada de alimentos da dieta da mãe somente deve acontecer com orientação de um profissional de saúde em caso de suspeita de alergia alimentar.

  • Introdução alimentar: a orientação geral é a de que a introdução alimentar aconteça a partir dos 6 meses de vida. Não se recomenda o adiamento da introdução alimentar e nem que, iniciada a introdução, sejam evitados alimentos alergênicos. A dieta de exclusão somente deve ser orientada para os casos em que há confirmação de alergia alimentar. Por outro lado estudos atuais mostram que a introdução tardia de alimentos potencialmente alergênicos podem fazer o “efeito contrário” predispondo ao maior risco de alergia alimentar. Portanto devemos aproveitar a “ janela imunológica “da criança, ou seja, o período em que a criança deve ser exposta a determinados alimentos ditos “alergênicos”, para reduzir suas chances em desenvolver uma alergia futura.

  • Microbiota intestinal: é fato que o estabelecimento de uma flora bacteriana intestinal inadequada (disbiose) pode resultar em alterações nos mecanismos reguladores (linfócitos T reg) e culminar em maior susceptibilidade a infecções ou desequilíbrio nos fenômenos de tolerância, induzindo respostas de hipersensibilidade, como as alergias alimentares. Por isso o uso precoce de antibióticos, principalmente antes de 1 ano de vida, deve ser evitado, pois pode levar à disbiose.

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